New home

Like many other immigrants, I've moved house several times, shared my space with strangers, learned to pack and unpack my belongings quickly and, every single time I saw the moving van fill up with boxes, I thought to myself "this is all I have in the world." Things. Clothes (too many); books; a vinyl signed by my brother; postcards from exotic places filled with pen-written messages fading away; a few pieces of art; the gold earrings my grandmother bought at 16 years of age after a summer working in the fields; a fragile but beautiful lamp bought from a shop going into liquidation; a few Vogues from the 90s; a mirror with a crack in which I find myself doubly reflected; coins from various countries that I kept in the event of return; a thirsty plant. Things. Things that hold the memories of years lived.

The other day a friend told me that when I speak of our house my voice increases in volume. He's right. Perhaps it’s because this dream has been long longing to gain voice and walls. I am the crab that likes to live in its shell. If the world ended tomorrow it would be at home, in the arms of the one I love the most wrapped in me like a blanket, that I would wish to spend the rest of my time.

When we first visited this house Martin said to me “I feel like we will be very happy in here”. Every day, towards the evening, the light of the star king penetrates through our room, invisible like perfume and paints the walls that still smell of paint in gold. After 7 years I finally feel at home in the country that saw me arrive with a suitcase jammed with dreams. I sit here, count sunsets and wait for him to return home so that we can live his premonition.

Tal como vários outros emigrantes já mudei de casa várias vezes, partilhei o meu espaço com gente desconhecida, aprendi a empacotar e desempacotar os meus pertences com rapidez e, de todas as vezes que vi a carrinha das mudanças a encher-se de caixotes, pensei para comigo “isto é tudo aquilo que tenho no mundo”. Coisas. Roupas (demasiadas); livros; um vinil assinado pelo meu irmão; postais de sítios exóticos cuja mensagem escrita a caneta vai desvanecendo; um quadro ou outro; os brincos de ouro que a minha avó comprou aos 16 anos de idade depois de um verão a trabalhar no campo; um candeeiro frágil e bonito que comprei numa liquidação; um espelho com uma racha no qual me vejo duplamente reflectida; moedas de vários países que fui guardando na eventualidade de lá voltar; uma planta com sede. Coisas. Coisas que guardam as memórias dos anos vividos.

No outro dia um amigo dizia-me que quando falo da nossa casa a minha voz aumenta de volume. Ele tem razão. É um sonho que há muito que ansiava ganhar voz e paredes. Eu sou a carangueja que gosta muito da sua casca. Se o mundo acabasse amanhã seria em casa nos braços de quem mais amo envoltos em mim como um cobertor, que passaria o resto do meu tempo.

Quando visitámos esta casa pela primeira vez o Martin disse-me “sinto que vamos ser muito felizes aqui”.  Ao final do dia a luz do astro rei penetra pelo nosso quarto adentro, invisível como o perfume e pinta de dourado as paredes que ainda cheiram a tinta. Ao fim de 7 anos sinto-me finalmente em casa neste país que me viu chegar com uma bagagem atolada de sonhos. Sento-me aqui, conto pores do sol e espero o seu regresso para que possamos concretizar a sua premonição.


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Thank you for reading / Obrigada pela visita

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